domingo, 21 de novembro de 2010

o primeiro texto


Após anos de resistência - e não, não exagero, foram mesmo ANOS! - eis que estou a escrever. Porquê? Em parte por teimosia, em parte por não saber sobre o quê escrever.
Mas, como diz o ditado, "Água mole em pedra dura..." venceste-me em teimosia, L, como de costume...
Quanto a tema, decidi-me a começar - por ordem alfabética - pelo tema Artistas. E o primeiro é António Variações. E porquê? Porque ele conseguiu mostrar, nas suas composições, grande conhecimento da psique humana, especialmente da portuguesa. A nossa indolência - que eu compartilho, e bastante! - a nossa inquietude...
Oh, como eu agora podia tornar este texto mais uma crítica política! Mas não quero... em vez disso, afasto-me da nossa classe política, com a sua mesquinhez, ganância, corrupção - com poucas e honrosas excepções! - e concentro-me nas palavras das músicas de Variações, nascido António Joaquim Rodrigues Ribeiro, português de gema que compreendeu algo que ainda luto por aceitar: nesta vida, nada é certo, nada está escrito em pedra ou se encontra definido... tudo varia, muda, experimenta, confronta, alia, ataca, recusa, aceita...
Estamos em constante mudança e nenhum de nós se mantém igual a vida toda. Assim, um português nascido no distrito de Braga ocupa-se como barbeiro e músico...
Quanto mais teria revelado ele ao mundo, não tivesse a morte apanhado tão assustadora pessoa tão cedo, com 39 anos, com uma doença assustadora, passada através de um acto normalmente transmissor de amor, de prazer e de dor... da própria vida? Nunca saberemos.
Ficam-nos as pequenas jóias de saber deixadas: "Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga"; "Só estou bem aonde não estou"; ...
Ainda me recordo, apesar de tão jovem, da última vez que o vi: foi na televisão, num programa apresentado por Júlio Isidro - cujo nome já não lembro. Doente, claramente doente, tão magro que impressionava, vestido com o que me pareciam pijamas, prestes a fazer a viagem sem volta...
Só espero, antes de fazer a minha, ter a sabedoria que esse lutador, que aos 12 anos já lutava por ser independente, tinha.

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